domingo, 29 de novembro de 2009

Planejamento estratégico e blá-blá-blá

Muitas empresas, no último trimestre do ano, fazem o planejamento estratégico para os próximos doze meses. Há extensa bibliografia sobre o assunto, mas erros grosseiros são cometidos com freqüência e mantém este processo sob permanente dúvida e forte descrédito. Vejamos alguns equívocos que destroem a força do planejamento:

1. Uso de métodos fora da realidade e contratação de consultores desqualificados para a tarefa. Por exemplo, estabelecer a identidade organizacional (definição de missão, visão e valores) parece um concurso de frases para o Ano Novo e não a discussão séria sobre o negócio (Missão), sobre as maiores metas (Visão) e sobre o comportamento esperado da equipe (Valores).

Esqueça frases para Missão como “Seremos reconhecidos pelo cliente como excelente operador logístico no Brasil e no exterior consolidando relacionamentos de sucesso, satisfação e contínua prosperidade” ou frases para Visão como “desenvolver continuamente o ser humano, objetivando crescimento sustentável e blá-blá-blá”. Para nada servem.

A Missão é o negócio da empresa, sua linha de produtos, a área geográfica onde atua e os clientes. A Visão é uma grande meta e precisa ter indicadores claros, ser numérica e com prazo. Se não quiser, não precisa nem usar estes termos. Basta discutir no
planejamento o seu negócio e suas grandes metas. É o suficiente.

2. Uso do brainstorming. Tempestade cerebral, “deixar a criatividade fluir” ou outras baboseiras são coisas de amadores ou de burros motivados. Planejamento se faz com dados, com ciência e com evidências. Fazer a famosa SWOT (forças, fraquezas, oportunidades e ameaças) utilizando a “sessão de palpites” é o mesmo que fazer check-up sem instrumentos e exames, uma boa opção apenas para quem deseja “matar o paciente”. Forças e fraquezas devem ser analisadas a partir da avaliação dos processos da empresa, seus indicadores numéricos e suas não-conformidades.

Faça uma rigorosa auditoria interna antes do planejamento e use seus resultados para identificar o que funciona bem e o que funciona mal em sua empresa. Ameaças e oportunidades devem ser identificadas pelas melhores pessoas do negócio com a ajuda eventual de gente de fora. Perguntar para um monte de gente que passa o tempo inteiro trancado dentro da empresa quais oportunidades e ameaças eles enxergam no mercado equivale a perguntar para um cego o que ele está vendo do outro lado da rua.

3. Fazer o planejamento sem começar pela avaliação da equipe. Como planejar certo com as pessoas erradas ou despreparadas? Planejamento é como um projeto e um projeto que começa com a equipe errada está fadado ao fracasso.

4. Usar dados em demasia e distantes da realidade da empresa, gerando books pesados e de difícil compreensão. Planejamentos pesados demais causam náuseas e não vão ser colocados em prática. Vamos buscar a “perfeição necessária” e ela normalmente é muito simples.

5. Encarar o planejamento como um evento e não como um processo. Planos de ação, incluindo os chamados “estratégicos”, devem ter a agilidade de uma agenda: fáceis de atualizar. O inimigo e o mundo movem-se com muita rapidez para que não façamos revisões freqüentes em nossos planos.

6. Definir planos em excesso. Fazer poucos planos é inteligente, só há tempo para poucos mesmo. O tempo com a rotina e o IMPONDERÁVEL (o tempo que será gasto com o imprevisível) tem prioridade sobre a melhoria. Fazer planos em demasia gera frustração e perda de foco, pois as equipes trabalham muito e sempre estão “devendo”. Ninguém precisa disto.

7. Definir metas absurdas, inexeqüíveis, otimistas demais. A visão conservadora sempre é a melhor. Com metas “bonitas” mas irreais, muitas empresas se preparam também para gastar e gastam mesmo. A receita, entretanto, não aparece!

8. A capacidade de planejar não se resume a uma “bola de cristal” em uma imersão em hotel uma vez ao ano. Você precisa deste evento, mas o planejamento deve ser uma agenda, olhado e ajustado todos os dias.

9. Falta de acompanhamento. Muitas diretorias apenas checam os indicadores e as metas mensalmente, mas não olham os planos de ação.

10. Diretrizes confusas da diretoria. Pouca análise, pouca informação, muita confusão. Muitas palavras sem sentido (governança, fatores críticos, direcionadores, intenção estratégica etc.) pioram a situação. Divida tudo em metas e planos de ação e esqueça a diferença entre tático e estratégico, entre eficiência e eficácia e outras bobagens.

Com todos estes erros, não é à toa que muitos profissionais “não creiam” em planejamento, algo já não muito aderente à nossa própria cultura. É uma lástima tamanho desperdício.


Postado por: Natasha Mendes Cavalcante

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